terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: Os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História - Número 4

Continuamos, hoje, a última lista do ano da seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. Dessa vez, o indicado na lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História é uma verdadeira lenda do automobilismo brasileiro. Sem perder mais tempo, vamos em frente:

QUARTO COLOCADO - Chico Landi

Para quem nunca ouviu falar de Chico Landi, os números de sua carreira não chamam muita atenção. Afinal, sua passagem pela Fórmula 1 limita-se a apenas seis Grandes Prêmios, disputados num período de cinco anos. Participação regular na categoria, portanto, nunca houve. Além disso, Chico tem apenas uma vitória internacional no currículo, conquistada numa prova que nem contava pontos para o mundial.

Qual seria, então, a importância de Chico Landi? Quais foram os feitos desse homem de trajetória tão difícil de reconstruir? A resposta é simples: Chico foi o primeiro. O pioneiro. Não só do Brasil, mas de toda a América Latina. Na década de 40, ele se aventurou pela Europa antes mesmo dos ases argentinos, como Juan Manuel Fangio e José Froilan Gonzalez.

Chico foi o primeiro ídolo do esporte a motor no Brasil, quando o automobilismo ainda era disputado em pistas indecentemente apertadas e perigosas. Numa delas - apelidada de "Trampolim do Diabo" - Chico conquistou três vitórias, que o credenciaram a tentar a sorte fora do país. Se não fosse a semente plantada por Chico, as corridas de automóveis talvez jamais tivessem se popularizado no país.

Filho de pai italiano e mão brasileira, Francisco Sacco Landi nasceu a 14 de julho de 1907, em São Paulo. Como era comum naquele período, ele demorou a fazer sua estréia no esporte. Só participou de uma corrida importante pela primeira vez em 1934, quando participou do 2º Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro. A prova - idealizada por Getúlio Vargas - era um dos poucos eventos realizados no Brasil que conseguiam ter repercussão internacional.

O traçado do circuito da Gávea era, de fato, um desafio inacreditável. Com mais de 100 curvas e alternando quatro superfícies diferentes - asfalto, cimento, paralelepípedo e, por incrível que pareça, areia - a pista ganhou o sugestivo nome de "Trampolim do Diabo". E foi exatamente lá que Chico começou a fazer a sua fama. Ele disputou várias edições diferentes do G.P., sempre com destaque. Na edição de 1947, conquistou a maior de suas vitórias.

Correndo contra duas lendas do automobilismo italiano - Luigi Villoresi e Achille Varzi - Chico venceu uma corrida disputada num dia de chuva intensa. O triunfo ganhou proporções épicas: com o motor enchardado após passar numa cascata que caía na Avenida Niemeyer, Chico precisou economizar um pit stop fazendo a vela do propulsor secar com ventilação forçada. Para isso, desligava o motor nos trechos de descida da pista.

Os italianos Villoresi e Varzi resolveram poupar o carro, pensando que a corrida de Chico estava perdida. Mas a vela milagrosamente secou, e Chico venceu, levando a multidão ao delírio. Foi o segundo de seus três triunfos no circuito da Gávea, onde ele também saiu vencedor em 1941 e 1948. Mais do que isso: o desempenho impressionante rendeu um convite para disputar corridas na Europa.

Numa dessas provas - o G.P. de Bari de 1948 - Chico se consagrou de vez. Antes da largada, ele descobriu que seu carro estava fora do regulamento, por causa de um mal-entendido com os organizadores. Irritado com a situação, o piloto brasileiro que acompanhava Chico - Rubens Abrunhosa - recusou-se a correr com um carro emprestado, e voltou para o Brasil. Chico, porém, tinha outras idéias. Aceitou o modelo reserva e tomou parte na corrida, pilotando uma Ferrari.

Um a um, os favoritos foram ficando para trás. Contrariando todas as expectativas, Chico venceu, derrotando até o futuro pentacampeão Juan Manuel Fangio. O fato foi tão inesperado que os organizadores precisaram tocar "O Guarani", de Dias Gomes, no podium. Não havia hino do Brasil. Apelidado de "O Nuvolari Brasileiro" pelos jornais italianos, Chico ganhou o respeito e a admiração de ninguém menos do que Enzo Ferrari. Seu futuro parecia ser glorioso, mas o G.P. de Bari de 1948 seria sua única atuação de destaque na Europa.

Avesso à política, Chico viu prejudicada sua carreira por causa disso. Certa vez, chateou-se profundamente quando um jornal chamou-lhe de "fascista", por correr com uma Ferrari. Ao contrário de Fangio, que recebeu grande suporte de Juan Perón, Chico nunca teve vontade de recorrer a Getúlio Vargas. Por causa disso, suas chances foram limitadas. Talvez ele nunca tivesse a chance de participar de um G.P. da recém-criada Fórmula 1, mas a vitória em Bari abriu algumas portas.

Em 1951, Chico inscreveu uma Ferrari pintada em verde e amarelo, da "Escuderia Bandeirantes" para o G.P. da Itália. O carro foi cedido pelo próprio Enzo Ferrari, que abriu uma exceção para Chico. "Não costumo vender nem alugar minhas máquinas. Mas você, Chico, é bravíssimo", teria dito o Comendatore. Na corrida, o carro apresenta problemas de transmissão, e Chico abandona já no início. Antes disso, chega a ocupar a oitava colocação.

Mais tarde, Chico ainda disputaria outras cinco corridas de Fórmula 1, sempre de Maserati, conquistando como melhor resultado um quarto lugar no G.P. da Argentina de 1956. Sobre essa época, conta-se que ele recusou um convite de Enzo Ferrari para integrar a equipe oficial da escuderia, porque não aceitou correr com um carro pintado de vermelho. Para Chico, a máquina precisava ter as cores de seu país: verde e amarelo. O Comendatore não cedeu e, segundo a lenda, contratou Fangio para a vaga que seria de Chico.

Sem chances na Europa, Chico voltou para o Brasil, onde continuou a fazer sucessos nos anos 50 e 60. Depois disso, tornou-se administrador do autódromo de Interlagos, contribuindo para a formação de vários pilotos brasileiros. Em 1989, aos 82 anos de idade, Chico faleceu. Sua família, então, cumpriu seu último pedido: jogar suas cinzas no próprio circuito de Interlagos. Apenas mais uma prova de seu incurável amor pelo esporte que ele apresentou ao Brasil.

Pela carreira de vitórias no Brasil, pelos anos de luta e batalha na Europa - onde ganhou o respeito de Enzo Ferrari e chegou a derrotar Juan Manuel Fangio - e por ter sido o grande pioneiro do automobilismo do nosso país, Chico Landi leva o quarto lugar na lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História.

Como sempre, o vídeo a seguir é uma homenagem ao protagonista do post. Nas imagens da seqüência, temos cenas raríssimas de uma corrida disputada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em meados de 1964. Correndo com um Karman-Ghia Porsche 1.600cc, Chico Landi foi o vencedor na categoria especial, dando mais uma demonstração do seu incrível talento:



A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número três da lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. E hoje, ao longo do dia, o Blog volta comentando as principais notícias do mundo da velocidade. Até mais!

Crédito das fotos (na ordem):

14 comentários:

Anônimo disse...

Não costumo comentar na sessão dos 10+ mas vou abrir uma exceção. Chico Landi era um ídolo de infância meu e fico muito feliz de ver seu nome lembrado por voce, Gustavo. Admito que não conhecia muita coisa da carreira dele mas lembrava dessa vitória na Gávea e da outra em Bari. Chico era um piloto de uma época que não existe mais, onde os pilotos corriam por paixão, pelo país e não por dólares. Vejo que se ele fosse como os atuais teria assinado com a Ferrari e tido sucesso. Mas ele seguiu sua convicção e acho que nunca se arrependeu disso. Parabéns pelo texto, muito bem articulado como sempre. Minha ordem para os tres primeiros é Piquet em terceiro, Emerson em segundo e senna em primeiro.

Anônimo disse...

Muito bo o texto.

Agora é Piquet em terceiro, Emmo em segundo e o grande Ayrton Senna em primeiro. Não tem o que errar, hein? Abs

Anônimo disse...

Cara ... Chico deveria ser o primeiro; pois sem ele não haveraia outros... ma sa lista segue ..... para contrariar os que postaram antes... Senna em 3º, Emerson em 2º e Piquet em 1º.....pelo menos na minha cabeça funciona deste modo.....

Anônimo disse...

Bravíssimo, Gustavo!!!

Desculpem os pilotos listados anteriormente, mas, agora sim a competição é pra valer.

Chico Landi nunca, repito, nunca poderá faltar numa lista sobre automobilismo brasileiro, seja lá de quantos a formarem.

Historicamente é inegável que as portas do mundo foram abertas por ele.

Pena que existam raríssimos vídeos. Já imaginava que ele viria hoje e desde ontem tentei catar alguma coisa dessa corrida de Bari, mas não consegui.

Encontrei o GP de Nurburgring (1956) quando Fangio foi campeão do mundo. O narrador do vídeo fala vários nomes, não sei se Landi está nesse pelotão.
http://br.youtube.com/watch?v=VK5zL647twk

GP Silverstone 1956:
http://br.youtube.com/watch?v=3HWHflUCFj8&feature=related

Abraços!!!

PS: Acho que o próximo da lista será o “Emmo”. Até pela rivalidade, Piquet e Senna ficarão para o final.

robalo disse...

Olá !!

Muito bom o texto, como sempre recheado de curiosidades e informações. Realmente o Chico Landi não poderia estar fora dessa lista tão seleta.

Apesar disso, e com todo respeito às pessoas que pensam diferente, eu não o colocaria como o 4º colocado. Não o colocaria nem mesmo à frente do velho e bom Ingo Hoffmann.

Tal qual eu já comentei aqui, em um desses posts, outro dia desses, essa coisa de listar os "10 Maiores" é muito difícil... pois sempre restará espaço para a subjetividade...

Depois de apresentada a lista completa, acredito que cada um dos participantes do blog apresentará a sua lista, momento em que constataremos que não é nada fácil obter unanimidade em relação aos "10 Maiores do Automobilismo Brasileiro".

Reconheço a importância do Chico Landi para o automobilismo nacional. No âmbito internacional, Podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que foi ele o piloto que abriu as primeiras portas para todos os pilotos brasileiros...

O vídeo postado é muito show !! Uma verdadeira relíquia!!

É isso aí...

Abçs!!

Vinicius Grissi disse...

Muito tempo que não passava por aqui. E nem você lá no Marcação Cerrada.

Chico Landi...confesso que não é do meu tempo! Já ouvi falar muito, mas conheço quase nada a respeito.

Abraços!

Anônimo disse...

Como sempre um ótimo texto e uma ótima diversão as curiosidades. Lá vai meu palpite para os 3 primeiros:

3) Emerson
2) Piquet
1) Senna

Abs!

Nuestra Semana de Pasión disse...

Vou de...

3º Piquet
2º Emerson
1º Senna!!

Obs:

Gustavo,

Nao sei se vc vai ler o que coloquei no seu outro post,entao ponho aqui de novo.
Bom, peço sua "liçensa" para postar o vídeo da Gala da FIA lá no Guard Rail também pq quando pus o de 2006 a pouco tempo,disse que ia por o de 2007 quando saísse.Talvez nem ponha ,mas se por acaso resolvo,ok?!

Beijos

Priscilla Bar disse...

Gustavo,

Foi mal,agora que percebi que postei com o loggin do meu companheiro de trabalho...acho q postei em um monte de lugar assim ....aff..
O comentário de cima é meu..

Desculpa aê...

Anônimo disse...

Depois que ví o Barrichello em 5º eu tive certeza que o quarto colocado seria o Landi. Na minha opinião, o Barrichello ficaria em 4º ou 3º, mas é isso... Lendo meu comentário no "post do Barrichello" dá a entender que sou fã o cara e sou meio suspeito pra falar haha

Gostei muito do texto. Abraço.

Unknown disse...

como sempre um ótimo texto gustavo...

vou contrariar todos,

Apesar de tu saber da minha paixão pelo Senna, acho que ele fica em Segundo, já que o Piquet (sabes tb que não vou com a cara dele) fica em terceiro, e o Emmo, por todo o seu pioneirismo, fica em primeiro.

Recaptulando

3º Piquet
2º Senna
1º Emerson Fittipaldi

Espero ter dado o palpite certo :P

Grande Abraço!!!

Fabio disse...

Ontem eu terminei de ler a biografia desse Francisco Landi. Se chama "Chico Landi, de ponta à ponta" de Paulo Scali. A contribuição desse senhor para o automobilismo (lato sensu) é definitivamente imensurável, é o que você falou: "ele foi o primeiro". Um cara que era filho de mecânico, parou de estudar acho que aos 13 anos e no final da vida distribuia diplomas para engenheiros com a sua assinatura.

Por argumentos semelhantes, concordo com o pessoal que Emerson é o segundão! rs... senti falta do Wilsão na lista, mas acredito que você fará algumas menções após o fim da contagem.

Só pra terminar, achei essa biografia na loja Argumento, que fica na R. Dias Ferreira - Leblon. Eu, que não quis/pude pagar R$120,00, fiz algumas visitas à livraria que tem um sofazinho bem confortável. Acho que vale a leitura.

Abraço!

Blog F1 Grand Prix disse...

Obrigado por todas as mensagens! A partir de amanhã é que vamos ter polêmica de verdade, hein?

Guilherme: Infelizmente, o Landi não estava em nenhum desses grids. Em 1956, ele só correu na Argentina mesmo. Mas valeu pela dica dos vídeos, são sensacionais!

Fábio: Cara, excelente sua dica sobre o livro do Landi. Estou pensando seriamente em dar uma passada na Argumento para conferir!

Grande abraço a todos!

Gustavo Coelho

Anônimo disse...

Grande Chico, agora voce tá é ferrado Gustavo, a partir de amanhã a galera vai pegar pesado com voce rsrsrs